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sexta-feira, 13 de agosto de 2021

OS REFLEXOS DA VIOLÊNCIA DOMÉSTICA INFANTIL

 ADULTO FRUSTADO




 Olá, meu nome é Inês e sou a criadora e produtora deste blog.

Sinto-me impelida a compartilhar com vocês um assunto muito polêmico que visa principalmente prevenir e orientar as famílias contra a violência doméstica.

O que desejo destacar a partir desses relatos sobre parte da minha vida é que a educação de um filho exige muita atenção e é um aprendizado contínuo. Não há uma fórmula mágica ou um manual de educação; cada família terá que encontrar seu próprio caminho para se adaptar aos seus costumes e rotinas na criação de seus filhos, mas a violência certamente nunca foi a melhor opção.

Às vezes, a criança ou adolescente vivencia constantemente a violência verbal, com xingamentos e gritos, o que pode ser tão prejudicial quanto qualquer outro tipo de violência.

Conforme Miles (2012, p.8) destaca:

 "Comportamento agressivo inclui, na maioria das vezes, gritos e berros ameaçadores. Uma menina de 16 anos não consegue esquecer os berros que acompanhavam as agressões que sofreu: “Sem dúvida, os piores momentos da minha vida. Alguém berrando, aterrorizando, você assustada o tempo todo. Você não pode imaginar como era viver pensando que aquele poderia ser o último dia da sua vida”. Uma menina de 8 anos relembra as ameaças: “Ele dizia: ‘à noite, quando você estiver dormindo, eu vou matar você’. Eu ficava com muito medo”.

Para o agressor, as palavras dirigidas à vítima perdem o significado pouco tempo depois, todavia, para a vítima, isso pode levar tempo demais, culminando em suas emoções psicológicas.

É muito triste observar ao nosso redor que o uso da força física ainda é um meio de "educar".

Nossa sociedade está repleta de adultos frustrados e infelizes devido às consequências da violência sofrida na infância.

Sou a prova viva dessa realidade. Posso afirmar que as surras, os gritos e as palavras duras que ouvi durante a minha infância me afetaram profundamente, causando danos irreparáveis para o meu desenvolvimento. Os reflexos de tudo isso me trouxeram traumas e amarguras profundas durante boa parte da minha vida adulta.

Sofri muito até começar a buscar respostas para tantas dores e limitações.

Fui uma criança extremamente tímida, insegura e cheia de medos. Na escola, não conseguia abrir a minha boca para tirar uma dúvida com o professor; eu ficava torcendo para algum colega ter as mesmas dúvidas e perguntar ao professor, caso contrário, eu ficava com as minhas dúvidas. Naquela época, não tínhamos acesso à internet nem a livros, não havia biblioteca na escola, e meus pais não tinham condições para comprar livros, então eu ficava sem respostas aos meus questionamentos, o que acabava limitando o meu conhecimento.

Isso me atrapalhou muito ao longo dos anos; perdi o interesse pelos estudos e acabei interrompendo quando cheguei no 5º ano. Depois de 10 anos, voltei e terminei o Ensino Fundamental no Supletivo, mas desisti novamente. Depois de mais 11 anos, retornei e concluí o Ensino Médio, também no supletivo. Então, pensei, agora já deu, faculdade nem pensar.

Passou mais um tempo, e aos 38 anos, decidi fazer um curso de graduação. Escolhi Pedagogia, pois era o único curso que me identificava indiretamente naquele momento. Acredito que foi a melhor escolha, pois os quatro anos de graduação me deram ainda mais condições de expressar um sentimento que ainda me incomoda muito: a violência doméstica é algo destruidor na vida do indivíduo.

Me formei com 42 anos de idade, feliz e realizada.

O tema de pesquisa do meu TCC foi "Violência doméstica: as repercussões na formação da criança e do adolescente". Foi um trabalho que amei, mergulhei de cabeça. A cada artigo ou livro que li para realizar minha pesquisa, sentia algo se movendo dentro de mim. Confesso que me derramava em lágrimas, pois me identificava em muitos fatores citados pelos autores.

Se alguém afirmar que apanhar lhe fez bem, por favor, desconsidere o que vou pontuar a seguir. Minha intenção ao destacar tais situações é justamente ajudar pessoas que enfrentam os mesmos traumas ou talvez até auxiliar alguém a compreender um adolescente ou uma criança com um comportamento considerado "inadequado".

Na minha pesquisa de TCC, procurei focar mais no relacionamento entre professor e aluno em sala de aula, buscando entender uma criança ou adolescente que está gritando por socorro através de seus comportamentos.

Aqui, pretendo chamar a atenção de familiares, amigos, vizinhos e até mesmo religiosos que frequentam alguma igreja. Por favor, não ignorem, não critiquem quando uma criança ou um adolescente apresentar um comportamento considerado "estranho" para vocês. Apenas reflitam sobre o que pode estar acontecendo e quem sabe demonstrem um pouco de amor em vez de críticas.

Vou contar um pouco, de forma resumida, sobre meus tormentos de infância e adolescência até me tornar adulta.

Venho de uma família simples; minha mãe se casou muito jovem, ficando viúva cerca de três anos depois. Desse casamento, ficou com três filhos para sustentar, sem nenhum auxílio financeiro, pois naquela época os trabalhadores rurais não tinham nenhum tipo de direitos assegurados. Pouco tempo depois, minha mãe conheceu outra pessoa e teve mais três filhos, eu e mais dois irmãos.

Meu pai era alcoólatra e trabalhava apenas para manter o vício. As brigas eram constantes em casa. Meu pai nunca foi violento com minha mãe ou conosco, mas costumava descontar sua raiva nos objetos, amassando tampas de panelas, e as brigas e as palavras ofensivas entre eles eram frequentes e nos assustavam muito, diminuindo-nos como seres humanos.

Minha mãe fazia questão de propagar para todos os vizinhos os problemas da relação familiar, inclusive para nossos colegas de escola, o que me fazia sentir muito desconfortável, chegando ao ponto de desejar me esconder de todos, pois não me sentia à vontade com aquela exposição.

Quando eu tinha sete anos, meus pais decidiram se separar. Foi numa tarde, e os dois começaram a dividir tudo, talheres, panelas, roupas de cama, entre outras coisas.

Levei alguns anos para conseguir decifrar meus sentimentos daquele dia; por um lado, sentia uma pequena leveza no coração, pois acreditava que as brigas cessariam e que tudo seria diferente. Mas, ao mesmo tempo, sentia a dor da perda e a tristeza ao visualizar a cena do meu pai juntando todos os seus pertences e socando dentro de sacolas, saindo com tristeza no olhar, enquanto minha mãe, segurando as lágrimas, afirmava com muita firmeza que tudo aquilo era necessário porque nosso pai não prestava para nada e nunca foi um pai de verdade para nós.

Cresci profundamente ferida, enfrentando tempos terríveis. Minha mãe precisava trabalhar para sustentar todos nós e não tinha tempo nem condições psicológicas para entender a dor de um filho. Ela resolvia tudo no grito, nas surras e, algumas vezes, desabafando sua própria dor e sofrimento. Depois de um tempo, minha mãe casou-se novamente e teve mais um filho, meu irmão mais novo. Dois anos depois, ela se separou novamente. Éramos seis irmãos e passamos por muitas dificuldades financeiras.

Fui uma criança muito insegura, cheia de medo; nunca confiei nas pessoas, e de certa forma, acredito que esse medo me protegeu de muitas coisas ruins, talvez até de um abuso sexual, quem sabe? Quando as pessoas tentavam se aproximar de mim, eu sempre me esquivava delas. Aprendi a ser independente à força; as pessoas me elogiavam quando eu tinha uns 12 anos, como se eu fosse um exemplo de menina nova, mas muito madura. O que ninguém imaginava era quantas lágrimas eu derramava sobre o meu travesseiro durante a noite e as angústias que sentia por não conseguir ao menos sonhar.

Até então, eu não desejava sequer construir uma família, porque, na minha mente, as famílias não eram felizes e só brigavam.

Minha família sempre foi católica, mas não praticante, e aos dez anos comecei a frequentar a catequese para fazer a primeira comunhão. Gostava muito dessas aulas, pois aprendia coisas sobre Deus, fé e religião, o que despertou um interesse maior em mim. Uma frase dita pela minha catequista abriu novos horizontes de esperança para mim: “Tudo o que estamos fazendo ou pensando, Deus está vendo e ouvindo”.

Minha religiosidade me aproximou de pessoas; fiz amigos, mas o vazio dentro de mim ainda persistia.

Sentia-me culpada por ter nascido, pensava ser um peso para minha mãe. Num de seus desabafos melancólicos, ela inconscientemente nos culpou por suas escolhas erradas. Ela disse: “se não fossem vocês, eu estaria vivendo muito bem com o meu pai”. Pouco tempo depois, certamente já nem lembrava mais do que havia dito. Mas, para mim, foi como uma bomba; vocês não imaginam o estrago que pode causar na vida de uma criança, enquanto que, para o adulto, não é nada. Eu me perguntava, por que nasci?

Por que Deus nos deixa nascer se, na verdade, só vamos atrapalhar a vida das nossas mães?

E a angústia aumentava a cada dia, levando-me a desejar tirar a própria vida. Um dia, saí de casa decidida a me jogar na frente de um carro no meio da rua, pensando que ninguém merecia viver daquele jeito. Mas acabei sentando num ponto de ônibus e comecei a imaginar a cena; em seguida, me questionei: e se eu não morrer? E se, em vez disso, ficar debilitada, incomodando ainda mais minha mãe? Chorei muito e depois voltei para casa.

Já trabalhava nessa época, tinha uns 14 anos mais ou menos. Comecei a trabalhar como babá para uma família evangélica, e essas pessoas me ajudaram muito em termos de conceitos familiares. Cuidei de duas crianças maravilhosas por cinco anos; aprendi muito com essa família e, nesse tempo, comecei a sonhar em me casar e ter filhos. O exemplo de vida deles me motivou a crer ainda mais em um Deus vivo e verdadeiro, e acabei indo para uma igreja evangélica.

Mas os traumas da infância ainda me assombravam, e eu desejava muito resolver isso para me sentir aliviada. Tentei conversar com minha mãe, mas ela é uma pessoa muito simples, com uma certa "ignorância" sobre essa realidade. Infelizmente, até hoje, ela acredita que fez o que era melhor e faria tudo de novo para "educar" os filhos.

Depois de um tempo, convenci-me de que minha fé em Deus havia resolvido tudo, e estava pronta para ser uma mãe diferente para meus filhos.

Me casei, tive dois filhos, e para minha maior tristeza, percebi que as raízes da violência doméstica ainda estavam presentes em mim, eram mais fortes do que eu. Quando menos esperava, eu estava reproduzindo os gritos e as surras com meus filhos. Depois, refletia e sofria amargamente por minhas ações.

Meu esposo me ajudou a enxergar a realidade, de que estava reproduzindo tudo o que vivi no passado. Mas precisei investigar o passado de meus pais para entender o que aconteceu com minha mãe em sua infância para deixá-la tão amarga e agressiva.

Não precisei ir muito além para compreender que minha mãe apenas estava oferecendo tudo o que tinha dentro de si. Percebi que a infância e adolescência dela foram muito cruéis; ela precisou se tornar mulher, mãe e chefe de família muito cedo. Sofreu violência conjugal e foi traída muitas vezes, entre outras adversidades.

Não estou justificando o comportamento de minha mãe; sou totalmente contra o uso da força física ou violência verbal e psicológica na educação dos filhos. Mas esse olhar foi importante para eu conseguir arrancar essa dor que me destruiu por anos.

Chegou o momento em que precisei pedir desculpas para meus filhos e explicar por que agi daquele jeito com eles.

Meu filho foi sincero durante essa conversa. Ele disse: "Todas as vezes que você me batia, eu sentia vontade de me vingar... Olha só, o que acontece com a violência! Sempre vai gerar violência..."

Muitas pessoas religiosas podem pensar que Deus cura tudo, mas posso afirmar que nem sempre apenas frequentar a igreja ou ter fé resolve. Na maioria dos casos, é aconselhável buscar ajuda de um profissional, fazer terapia e, em casos mais graves, até mesmo fazer uso de medicamentos. Não foi o meu caso, mas acredito que se tivesse procurado algumas sessões de terapia naquele momento, com certeza teria sido mais fácil.

Portanto, evitem julgar o comportamento das crianças e dos adolescentes; muitas vezes, as birras, o choro, as agressividades ou até mesmo uma timidez extrema podem ser sinais de que algo está errado.

Da mesma forma, antes de julgar um adulto frustrado, reflitam um pouco sobre o tipo de infância que essa pessoa teve...

Referências

MILES, Liz. Estudo de caso. In:______. Vencendo a violência doméstica. Problemas da vida real: Tipos de violência doméstica. São Paulo: Hedra, 2012


REFLXÃO

No silêncio sombrio da infância, ela navegou pelas águas turbulentas do medo e da violência. Cada dia era uma batalha contra a dor física e os tormentos psicológicos que se enraizavam em sua alma frágil. Cresceu com a máscara da força, erguendo muralhas de bravura para ocultar as cicatrizes que a vida lhe impusera tão cedo.

Por fora, parecia uma fortaleza, uma mulher de semblante firme e determinado. No entanto, por dentro, os resquícios dos dias sombrios da infância perduravam como sombras implacáveis. A depressão, a ansiedade e a tristeza eram companheiras constantes, envolvendo-a em um véu de solidão que parecia insuperável.

Ela ansiava por um refúgio, por um ombro onde pudesse repousar suas angústias, mas o eco de sua dor reverberava em um vazio assustador. A sensação de estar desamparada, sem alguém para acolhê-la em momentos de fragilidade, corroía sua alma mais do que qualquer ferida física já fizera.

Cada passo dado na jornada da vida era marcado pela sombra do passado, que teimava em se projetar sobre seu presente. E assim, ela caminhava, lutando contra os fantasmas que a assombravam, desejando ardentemente encontrar uma luz capaz de dissipar a escuridão que a envolvia. Pois, apesar de toda aparente fortaleza, no fundo de seu coração, ela era apenas uma menina em busca de paz e acolhimento.

 

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